sábado, 26 de março de 2011

Palavras de sabedoria do Professor Hermógenes



“Entrego, confio, aceito e agradeço.”
“Deus me livre de ser normal.”
“Normose”; “humildação/humildar”, neologismos ou pérolas linguísticas? Reproduzi aqui algumas das palavras de sabedoria do querido Professor Hermógenes, hoje com 90 anos de idade e ainda na ativa na aplicação e divulgação dos ensinamentos e da filosofia do Yoga. Pequenas e profundas reflexões retiradas do livro “Silêncio, Tranquilidade, Luz. Editora Letraviva.

Palavras de sabedoria – Professor Hermógenes:
“A distância faz milagres. Quando vejo o céu estrelado, sou presa de profunda emoção. Não é mesmo de se cair de joelhos, reverente diante do milagre que a distância opera? Como é que tantas estrelas podem caber na pequenez de meus olhos extasiados?!...” (p.11)

“Se as coisas lá de fora te amedrontam, é que ainda não sabes da silenciosa fortaleza de paz que há dentro de ti.” (p.17)

“Ao ruído de fora, responde com teu silêncio e ele, comovido, reverente, convencer-se-á de que deve calar-se.” (p.17)

“Num mundo desarmônico e neurótico, aquele que tem paz é chamado de maluco. Deus me livre de curar-me.” (p.18)

“Procura conhecer os motivos ocultos de tuas bondades. Talvez não sejam tão bons. Procura sondar os motivos abissais de tuas maldades. Talvez não sejam tão maus.” (p.24)

“Os velhos não são os que viveram longamente, mas o que já não tem ânimo de aprender e de se renovar.” (p.24)

“Guarda uma boa reserva de açúcar em teu coração e usa-a com a primeira pessoa azeda que encontrares em teu caminho.” (p.25)

“Se ainda não aprendeste a encontrar teu silêncio em pleno tumulto, é que ainda levas tumulto até mesmo ao coração do próprio silêncio.” (p.25)

“Os ruídos dos motores não te causarão dano se teu coração for feito de silêncio. As sujeiras do mundo não te macularão se tua alma é revestida de pureza. A intranquilidade das multidões neuróticas não te perturbará se reina paz dentro de ti.” (p.27)

“A chaminé da fábrica agrediu o azul do céu com negras baforadas densas de progresso.” (p.28)

“Nuvens baixas, pesadas, plúmbeas, despejavam farta chuva sobreo mar, agradecendo-lhe o empréstimo.” (p.30)

“Não há moeda que só tenha uma face. Por que insistes em olhar apenas a face negra?” (p.32)

“Dos escombros do que pensas ser, um dia (e que não seja tarde) se levantará o que sempre fostes, é e sempre serás: Eternidade, Infinitude, Bem-aventurança. Mas... Lembra-se: primeiro os escombros.” (p.34)

“Alongar minha vida, de um segundo que seja não posso. Mas engrandece-la, só depende de mim. Engrandecê-la-ei no dia em que puder apequenar a enorme vaidade que incha dentro de mim.” (p.37)

“Se me derem um limão, dizia um sábio, farei uma limonada. Era como expressava sua imperturbabilidade diante das tempestades da vida. E eu, como poderei fazer limonadas se ainda não consegui adoçar a minha alma? Vou começar a juntar açúcar, pois limões não faltam, e, assim, vou ter muitas limonadas. ” (p.39)
“Outra coisa que acho que é sábio fazer para não sofrer o azedume dos limões da existência, é aceitar, com bravura e estoicismo, a necessidade de usar suas vitaminas” (p.39)

“A dor nasce de não aceitarmos o irremediável.” (p.41)

Se desejas a visita dos pássaros, põe-lhes comidinha na janela. Se desejas o amor dos outros, que teus lábios virem janela e teus sorrisos, alpiste.” (p.41)

“Deus abençoe aqueles que me causaram as dores que me ensinaram.” (p.45)

“Toma juízo, meu irmão. Não busques confiança, segurança, proteção, vantagens em “verdades” que tu e outros por tantas eras fossilizaste.” (p.46)

“Se eu fosse planta, gostaria de um meio propício que me facilitasse crescer. Mas, sou homem. E por isto prefiro um meio adverso que me desafie a CRESCER.” (p.46)

“Lava teus olhos com as águas cristalinas da pureza e o mundo sempre te será paisagem radiosa; embebeda-te de luz e tua alma será festa. (p.47)

“Tua alma, se tem pureza, é capaz até de emprestar perfume ao rosal, quanto mais à insônia do aflito e ao conflito que inferniza a alma do malfeitor.” (p.47)

“Haverá riqueza mais apetecível do que um permanente sentimento de bastante? Haverá pobreza maior do que a insatisfação permanente?” (p.48)

“Os sentidos são muito gulosos. Mesmo que os deixe livres e me esforce para aplacar-lhes a sede, jamais se sentirão satisfeitos. Quanto mais atendidos, mas ávidos se tornam. Se achas mesmo que deves ceder ao apetite de teus sentidos, aprende, pelo menos, a escolher as mais sadias, as mais serenas, mais refinadas e sublimes sensações. Os órgãos dos sentidos são vidraças que deixam entrar para dentro da alma os muitos objetos do mundo. Limpa as vidraças para o que é digno de vir à tua casa e cerra as cortinas ao que deve ficar lá fora.(p.48-49)
“Se fazemos silêncio no fundo de nós mesmos, os sons da mata emudecerão por certo. Ficarão atentos ao ritmo do coração tranquilo.” (p.51)

“Ninguém conseguirá silêncio se ficar a esperar que o mundo de fora se cale.” (p.53)

“Só os sábios não têm acanhamento de dizer: ‘não sei’.” (p.53)

“A humanidade é uma partida de futebol. Uma partida bem esquisita. Nela, quase só se veem contendores. Felizes espectadores são raríssimos. O juiz está horrorizado com as dimensões da brutalidade do jogo.” (p.56)

“Uma das coisas que mais gosto de ver é uma rosa nua tomando banho de chuva e vermelhinha de encabulada.” (p.59)

“Arquitetar porvir, lembrar outrora, ansiar pelo amanhã, ter saudade de ontem, esquecer-se do agora... É assim que somos nós.” (p.63)

“Pelas exíguas claraboias da razão só algumas magras verdades podem entrar. Se queres mais, se queres a Verdade, aquela que redime e de que Jesus e Buda falaram, escancara os portões do coração e deixa-te invadir.” (p.68)

“Enquanto é tempo, aprende o desapego, meu incauto irmão. Cada coisa que percas, cada riqueza que te levem, cada pessoa que se despeça, que vá só, sem levar um pedaço de ti.” (p.69)

“Quando estamos a sós, o que mais fala não são as palavras. São os silêncios.” (p.69)

“Erguestes altas, sólidas e pesadas muralhas em torno de teu eu. Com elas, queres te proteger da dor, da angústia e da insegurança... Trata de derrubá-las agora, quanto antes... São elas a causa única de tua dor.” (p.71)

“Cultiva as flores de teu coração. Não há melhores para perfumar os dias daqueles que precisam de ti.” (p.74)

“Minha sombra persegue-me o dia todo. Vai para onde vou e, gaiata e monotonamente, todos os meus gestos imita. Da mesma forma, as consequências de meus erros grudam-se-me às costas e eu tenho de carregá-las”. (p.74)

“Para o tolo, desilusão é dor. Para o sábio é oportunidade de aprender. É o portão do jardim da liberdade.” (p.77)

“O mar não se sente diminuído na maré baixa nem presunçoso na preamar. Quando o homem tem realizado a infinitude do Divino Mar que ele é, não é afetado por vitórias e quedas, paz ou guerra, bem ou mal, dor ou prazer.” (p.77)

“Quando a Vida quis uma forma de vida que pudesse conhecê-la, inventou os homens. E estes, dormindo nos altos e baixos, entretidos entre gozos e dores, agitados e ocupados apenas consigo, esquecem a Vida, enquanto cuidam da vida própria... Rasos são os sábios... Quanta razão tem a Vida para desolar-se com a vida que os homens levem!...” (p.79)

“A única forma que uma luz tem de ocultar-se é ficar bem em frente a uma outra luz bem maior.” (p.79).

“Auto-analisa-te. A cada instante busca alcançar os motivos mais profundos – e não os aparentes – que te fazer agir. Busca com bastante coragem. E prudência! Não te deixes iludir!... Fica sabendo: és tu mesmo e não os outros que melhor te engodas!” (p.80)

“O eu que suponho ser impede a realização do Ser Real que verdadeiramente sou.” (p.81)

“Se o vaga-lume aprendesse a ficar quietinho, aceso, satisfeito e amoroso, não havia quem não pensasse que era uma estrela... Como é bom ficar quieto, em silêncio, esperando a visita da luz... O vaga-lume tem a luz, está faltando somente a quietude. Silêncio já tem. E tem também o negrume da noite a servir-lhe de fundo...” (p.83)

“Como queres colher rosas, insensato, se em volta da casa semeaste urtigas?!” (p.84)

“Eu me escandalizo de vez em quando com a esperteza com que eu mesmo arranjo as coisas para iludir-me. Este home astuto que se embosca dentro de mim faz a sua maior esperteza quando quer me convencer de assim proceder para defender-me...” (p.84)

“Até o sol, em seu infinito esplendor, padece impossíveis. Jamais gozará – coitado – do espetáculo de um céu estrelado.” (p.85)

“Todos sofrem. Todos padecem. Uns sofrem menos e outros mais. A diferença está em que os primeiros conseguem tirar proveito da desventura e se engrandecem; os outros, tentam fugir e se despedaçam nas pedras do caminho.” (p.88)

“quando te sentires exaurido, aflito e deprimido, faz como o yoguin: mergulha dentro de ti e bebe na Fonte Interna... Depois, telefona-me dizendo o resultado.” (p.95)

“O yoguin não confunde ação com agitação. Aprendeu a distinguir entre atividade improdutiva e inatividade fecunda. Procura-o e pede-lhe que te ensine.” (p.99)

“Ensinava o Sábio Yogananda: ‘Se plantaste, espera, confia com paciência. Não arranques a semente todos os dias para ver se já está nascendo.” (p.101)

“O homem rico gasta muito dinheiro, paga ao jardineiro para aparar a grama e cuidar das flores, mas vive apressado e não tem vagares para olhar. Paga muito caro para dizer-se dono do jardim. Mas a ninguém pertence um jardim a não ser àquele que tem tempo e sabe embevecer-se ao contemplá-lo.” (p.101)

“A antítese de treva é luz. Seu antídoto é a dor. Se desejas luz, não temas a dor.” (p.102)

“Nem o padecer é antônimo de felicidade, nem gozar é sinônimo. Não vejo um sinônimo, não vejo um antônimo para felicidade. Felicidade está além. Muito longe de prós e contras.” (p.102)

“É inútil abrir a gaiola. Os milênios que ali passou prisioneiro já o convenceram de que ninguém é mais livre do que ele.” (p.103)

“A dor física é, muitas vezes, um alerta, mas às vezes, uma convocação e, não raro, um tributo que se paga. Se é alerta, tome o aviso a sério, e maiores dores você poderá evitar. Se convocação, exulte. Deus não nos convida para coisas ruins. Se um tributo, alegre-se. Nada pior do que ficar devendo.” (p.106)

“Vãmente se entristece o colibri. Vai ser muito difícil convencer o verme a trocar a lama que o agrada pelas flores que ele não entende.” (p.107)
“Hoje feio e fétido, cismava o charco, um dia serei nuvem.” (p.107)

“A dor, em tantos milênios de existência, jamais errou um endereço, mesmo quando o destinatário mudou de casa.” (p.109)

“É preciso que eu seja um tanto estúpido para admitir que sou minha roupa. No entanto, passei muito tempo pensando que eu era o corpo. E como custou caro esta estultície!... Se o corpo adoecia, eu sofria como se fosse em mim a doença. E o pior, eu tinha medo de morrer, porque sabia que o corpo é mortal. Como eu era tolo então!...” (p.109)

“É nas quedas que o rio cria energia.” (p.110)

“Os que optaram pelo caminho largo, a grande maioria dos vorazes desfrutadores de prazer, ainda por algum tempo continuarão embalados pelas doçuras que escondem o amargo, pelas sombras travestidas de brilho, pela miséria escamoteada na falsa opulência. Seguem assim até que, a certa h ora, a dor neles brutalmente manifesta todo seu poder de os ‘des-iludir’, ‘des-encantar’, ‘des-enganar’... Algumas dores vêm para ‘des-iludir’; outras para castigar; outras, para corrigir. O certo é que elas nunca erram de endereço, nem hora. Seja para despertar ou para cobrar inadimplências, o s que trilham o “caminho largo” têm uma inevitável programação de padecimentos oportunos e didáticos.” (p.114)

(retirado do livro do professor Hermógenes. Silêncio, Tranquilidade, Luz. Editora Letraviva. 1999)